terça-feira, 14 de junho de 2011

Quilombo dos Palmares.


O Quilombo dos Palmares localizava-se na então capitania de Pernambuco, na serra da Barriga, região hoje pertencente ao município de União dos Palmares, no estado brasileiro de Alagoas.

Conheceu o seu auge na segunda metade do século XVII, constituindo-se no mais emblemático dos quilombos formados no período colonial. Resistiu por mais de um século, o seu mito transformando-se em moderno símbolo da resistência do africano à escravatura, ainda que, paradoxalmente, tenha-se conhecimento do uso de escravos em muitos quilombos.[1]

Índice [esconder]
1 História
1.1 Antecedentes
1.2 O apogeu
1.3 A repressão
1.3.1 A ação de Domingos Jorge Velho
2 Filmografia
3 Notas
4 Bibliografia
5 Ver também
6 Ligações externas


[editar] História[editar] AntecedentesAs primeiras referências a um quilombo na região remontam a 1580, formado por escravos fugitivos de engenhos das Capitanias de Pernambuco e da Bahia: iniciava-se o período denominado, no Brasil, como União Ibérica.

No fim do século XVI, o quilombo ocupava uma vasta área coberta de palmeiras, que se estendia do cabo de Santo Agostinho ao rio São Francisco. Um século mais tarde, esse território encontrava-se reduzido à região de Una e Serinhaém, em Pernambuco, Porto Calvo e São Francisco, atual Penedo, em Alagoas.

[editar] O apogeuÀ época das invasões holandesas do Brasil (1624-1625 e 1630-1654), com a perturbação causada nas rotinas dos engenhos de açúcar, registrou-se um crescimento da população em Palmares, que passou a formar diversos núcleos de povoamento (mocambos). Os principais foram:

Macaco - o maior, centro político do quilombo, contando com cerca de 1.500 habitações;
Subupira - centralizava as atividades militares, contando com cerca de 800 habitações;
Zumbi
Tabocas
Embora não se possa precisar o número de habitantes nos Palmares, de vez que a população flutuava ao sabor das conjunturas, historiadores estimam que, em 1670, alcançou cerca de vinte mil pessoas.

Essa população sobrevivia graças à caça, à pesca, à coleta de frutas (manga, jaca, abacate e outras) e à agricultura (feijão, milho, mandioca, banana, laranja e cana-de-açúcar). Complementarmente, praticava o artesanato: (cestas, tecidos, cerâmica, metalurgia). Os excedentes eram comercializados com as populações vizinhas, de tal forma que colonos chegavam a alugar terras para plantio e a trocar alimentos por munição com os quilombolas.

Pouco se sabe, também, acerca da organização política do quilombo. Alguns supõem que se constituiu ali um verdadeiro Estado, nos moldes dos reinos africanos, sendo os diversos mocambos governados por oligarcas sob a chefia suprema de um líder. Outros apontam para a possibilidade de uma descentralização do poder entre os diferentes grupos, pertencentes às diversas etnias que formavam os núcleos de quilombos, que delegavam esse poder a lideranças militares conforme o seu prestígio. As mais famosas lideranças foram Ganga Zumba e seu sobrinho, Zumbi. Apesar disso, alguma forma de trabalho compulsório também foi praticada dentro do quilombo.[2]

[editar] A repressão
Busto de Zumbi dos Palmares em Brasília.Com a expulsão dos holandeses do Nordeste do Brasil, acentuou-se a carência de mão-de-obra para a retomada de produção dos engenhos de açúcar da região. Dado o elevado preço dos escravos africanos, os ataques a Palmares aumentaram, visando a recaptura de seus integrantes.

A prosperidade de Palmares, por outro lado, atraía atenção e receio, e o governo colonial sentiu-se obrigado a tomar providências para afirmar o seu poder sobre a região. Em carta à Coroa Portuguesa, um Governador-geral reportou que os quilombos eram mais difíceis de vencer do que os holandeses (neerlandeses).

Foram necessárias, entretanto, cerca de dezoito expedições, organizadas desde o período de dominação holandesa, para erradicar definitivamente o Quilombo dos Palmares.

No último quartel do século XVII, Fernão Carrilho ofereceu a Ganga Zumba, um líder que implementou táticas de guerrilha na defesa do território, um tratado de paz (1677). Por seus termos, era oferecida a liberdade aos nascidos no quilombo, assim como terras inférteis na região de Cocaú. Grande parte dos quilombolas rejeitou os termos desse acordo, nitidamente desfavoráveis e, na disputa então surgida, Ganga Zumba foi envenenado, subindo ao poder o seu irmão, Ganga Zona, aliado dos portugueses. O acordo foi, desse modo, rompido, tendo os dissidentes se restabelecido em Palmares, sob a liderança de Zumbi.

No primeiro momento, Zumbi substituiu a estratégia de defesa passiva por um tipo de estratégia de guerrilha, com a prática de ataques de surpresa a engenhos, libertando escravos e apoderando-se de armas, munições e suprimentos, empregando-os em novos ataques.

[editar] A ação de Domingos Jorge Velho
Domingos Jorge Velho.Ver artigo principal: Guerra dos Palmares
Após várias investidas relativamente infrutíferas contra Palmares, o governador e Capitão-general da capitania de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, contratou o bandeirante Domingos Jorge Velho e o Capitão-mor Bernardo Vieira de Melo para erradicar de vez a ameaça dos escravos fugitivos na região.

O quilombo passou a ser atacado pelas forças do bandeirante e, mesmo experientes na guerra de extermínio, tiveram grandes dificuldades em vencer as táticas dos quilombolas, mais elaboradas que a dos indígenas com quem haviam tido contato. Adicionalmente, tiveram problemas para contornar a inimizade surgida com os colonos da região, vítimas de saques dos bandeirantes em diversas ocasiões.

Em janeiro de 1694, após um ataque frustrado, as forças do bandeirante iniciaram uma empreitada vitoriosa, com um contingente de seis mil homens, bem armados e municiados, inclusive com artilharia. Um quilombola, Antônio Soares, foi capturado e, mediante a promessa de Domingos Jorge Velho de que seria libertado em troca da revelação do esconderijo do líder, Zumbi foi encurralado e morto em uma emboscada, a 20 de novembro de 1695.

A cabeça de Zumbi foi cortada e conduzida para Recife, onde foi exposta em praça pública, no alto de um mastro, para servir de exemplo a outros escravos.

Sem a liderança militar de Zumbi, por volta do ano de 1710, o quilombo desfez-se por completo.

[editar] FilmografiaGanga Zumba, de Cacá Diegues, 1963.
Quilombo, de Cacá Diegues, 1983.
Notas1.↑ Libby, Douglas Cole e Furtado, Júnia Ferreira. Trabalho livre, trabalho escravo: Brasil e Europa, séculos XVIII e XIX. págs. 321-322. Annablume, 2006 - ISBN 8574196274, 9788574196275
2.↑ Dentro de uma visão historiográfica mais recente, o principal historiador a reinterpretar o que ocorreu nos quilombos brasileiros é o carioca Flávio dos Santos Gomes na obra Histórias de Quilombolas, onde afirma: "Ao contrário de muitos estudos dos anos 1960 e 1970, as investigações mais recentes procuraram se aproximar do diálogo com a literatura internacional sobre o tema, ressaltando reflexões sobre cultura, família e protesto escravo no Caribe e no sul dos Estados Unidos". Essa corrente, recorrendo a fontes primárias e baseando-se no modo de pensar da época, busca desfazer diversos mitos criados sobre Palmares no século XX, concluindo que ali existiu uma hierarquia estratificada, com servos e reis tão poderosos quanto os dos reinos na África; que Zumbi e outros chefes tinham os seus próprios escravos; que as cartas nas quais um padre daria detalhes acerca da infância de Zumbi provavelmente foram forjadas; e que, ao romper o acordo de Ganga-Zumba com os Portugueses, o próprio Zumbi pode ter decretado o fim do quilombo. Ver Leandro Narloch. O Enigma de Zumbi. in: Revista Veja. Consultado em 15 Nov. 2008.
[editar] BibliografiaCARNEIRO, Edson. O quilombo dos Palmares. São Paulo: Nacional, 1958.
FREITAS, Décio. Palmares. A guerra dos escravos. Porto Alegre: Movimento, 1973.
MATTOSO, Kátia de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1982.
MOURA, Clóvis. Os quilombos e a rebelião negra. São Paulo: Brasiliense, 1981.
MOURA, Clóvis. Rebeliões da senzala. s.l.: Zumbi, 1959.
PERET, Benjamin. O quilombo dos Palmares, ensaios e comentários de M. Maestri e R. Ponge (org.), Porto Alegre: EdiUFRGS,2002.
REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos (org.). Liberdade por um fio. História dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Risério, António. Escravos de escravos.Nossa Historia . Editora Vera Cruz.

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