sábado, 18 de junho de 2011
Imigrantes Americanos no Brasil.
Hoje, de acordo com a polícia federal, apenas 2,7% de todos os imigrantes que vêm legalmente para o Brasil são americanos. Esses imigrantes procuram o Brasil há 135 anos, inicialmente em busca de terras férteis e baratas para cultivar. O número oficial de norte-americanos hoje no Brasil é de 22,3 mil pessoas, que chegam ao país para oferecer sua mão-de-obra especializada para multinacionais, universidades e instituições de pesquisa.
Comandantes sulistas da Guerra de Secessão.
Com o fim da Guerra de Secessão nos Estados Unidos, em 1865, os estados do sul ficaram arrasados pela perda de terras, escravos e pela humilhação da derrota para os inimigos Yankees (dos estados do norte) que defendiam incentivos às indústrias e o fim da escravidão.
A insatisfação dos sulistas veio de encontro à política brasileira de incentivo à imigração como forma de substituir a mão-de-obra - mais escassa devido à Lei de 1850 que proibia o tráfico de escravos- e investir no crescimento da agricultura e do país. Segundo a historiadora Alessandra Zorzetto, pesquisadora do Centro de estudos de Migrações Internacionais (CEMI), o governo brasileiro questionava qual seria o perfil racial do Brasil nos próximos 50 anos. Dentro da perspectiva racista da época, havia a preocupação de determinados setores do governo em promover o branqueamento da população brasileira. Os trabalhadores brancos eram tidos como mais aptos ao trabalho do que os negros e buscava-se então trazê-los - principalmente agricultures - vindos da Europa e dos Estados Unidos. Assim, o Brasil tratou de abrir um escritório em Nova Iorque para recrutar imigrantes. O governo imperial brasileiro oferecia terras baratas e sob forma de hipoteca, podendo ser pagas em até três parcelas bianuais. Essas terras terras devolutas, pertencentes ao estado, que muitas vezes não eram cultivadas ou estavam em áreas encharcadas. Além disso, o governo oferecia instrumentos agrícolas, transporte gratuito do Rio de Janeiro até a colônia e mais 30 dólares mensais durante seis meses para cada adulto. Nos jornais americanos da época divulgava-se que o Brasil era um país de 9 milhões de habitantes, com imensidão de terras boas para o plantio, escravos ensinados e com um partido majoritário "Liberal", com idéias muito semelhantes às dos sulistas.
Os imigrantes eram pessoas que possuíam riquezas antes da guerra ou cidadãos com pouco dinheiro mas que estavam dispostos a empregá-lo na agricultura. "Diferentemente do que se imaginava, a maioria deles era formada por pequenos proprietários", afirma Alessandra Zorzetto, que em sua tese de mestrado estudou a compra e venda de propriedades feita por imigrantes americanos, de 1865 à 1900, na região de Santa Bárbara D'Oeste, Americana, Campinas e Piracicaba (cidades do interior de São Paulo).
Até 1867, cerca de 10 mil sulistas passaram a embarcaram nos portos de New Orleans, Charleston, Boston, Nova Iorque e outros, com destino a inúmeros países. Destes, 2.700 seguiram para o Brasil (Tabela.1). Eles chegavam ao porto do Rio de Janeiro, depois de uma viagem que durava de 30 à 60 dias e, muitas vezes sem destino certo, ficavam hospedados na Casa do Imigrante.
Esses estrangeiros se estabeleceram em várias regiões do país, mas a maioria se encaminhou para o interior do Estado de São Paulo, que contava com estradas de ferro ligadas ao porto de Santos o que facilitava o escoamento da produção. De todas as regiões que acolheram americanos, Santa Bárbara D'Oeste, cidade a 150 km de São Paulo, foi a que mais se desenvolveu. Os primeiros americanos a chegar lá foram o Coronel William Hutchiinson Norris, ex-combatente da Guerra Civil Americana e ex-senador do estado do Alabama, e seu filho, que passaram a ministrar cursos sobre técnicas de cultivo de algodão aos fazendeiros locais. Uma vez estabelecidos, receberam o restante da família e outros conterrâneos.
Segundo afirma a socióloga Teresa Sales no artigo "O trabalhador brasileiro no contexto das migrações internacionais" contido no livro Emigração e Imigração Internacionais no Brasil Contemporâneo, as migrações não se dão de forma aleatória, mas se dirigem para certas áreas com as quais seu lugar de origem tem fortes laços, que constituem redes sociais. Assim, um grupo já estabelecido pode ajudar aquele que acabou de chegar. Em Santa Bárbara D'Oeste, um grupo desses imigrantes se instalou ao redor da estação ferroviária e acabou dando origem a Villa Americana, que mais tarde se emanciparia formando o município de Americana, hoje a 5Km deSta. Bárbara.
"Os brasileiros foram muito generosos, dando-nos presentes e vendendo à crédito, auxiliando os mais pobres a fazer a sua primeira safra"
(Pattie Steagall em trecho de carta publicada no livro "Soldado descansa")
O período de adaptação que se seguiu incluiu mímicas para se comunicarem com os brasileiros e empregados. Muitas vezes, no entanto, quem aprendia outra língua eram os últimos. Algumas famílias compraram escravos para ajudar na lavoura ou na criação dos filhos, embora tenham aberto mão destes em 1888 com a abolição dos escravos. Outros retornaram ao seu país depois de dificuldades de adaptação.
Muitos profissionais liberais como professoras, médicos e dentistas também emigraram dos Estados Unidos, trabalhando no comércio e trazendo conhecimentos e métodos mais avançados. A introdução do arado , ao invés da enxada usada pelos brasileiros, diminuiu o tempo de preparo do solo e aumentou a produtividade. Nas lavouras de algodão foi adotada a técnica de rotação de cultura, alternando com o cultivo de milho e cana, para amenizar o problema de exaustão do solo. Muitas vezes os americanos traziam sementes de diversas plantas como forma de trazer um pedaço de sua nação. Entre alguns exemplos estão as melancias da Geórgia e a noz pecã, hoje cultivada no sul do Brasil.
Os americanos, protestantes em sua maioria, não podiam ser enterrados em cemitérios católicos. Então, passaram a ser sepultados em uma área de aproximadamente um hectare na fazenda da família Oliver, hoje no Campo, há 15km do centro de Sta. Bárbara. Apesar de não católicos poderem ser enterrados em cemitérios no Brasil a partir da última década do século XIX, as famílias americanas ainda preservam o Cemitério do Campo para enterrar seus descendentes.
Algumas tradições americanas foram, pouco a pouco, sendo absorvidas pela cultura local, mas outras foram incorporadas e difundidas pelo país. O famoso frango frito, a broa de milho, as panquecas, os waffles e as tortas doces e salgadas vêm da cultura americana. Os edredons de penas ou de algodão eram confeccionados pelas americanas que se reuniam para costurar e por as conversas em dia, enquanto seus maridos estavam no campo. Veja tabela 2 abaixo.
A primeira geração de americanos procurava conservar sua cultura, falando apenas inglês e casando seus filhos com membros de famílias americanas. A partir da terceira geração, no entanto, os jovens que foram crescendo, mudavam-se para as cidades grandes em busca de continuar seus estudos. Alguns se aventuraram pelo nordeste e outros casaram-se com brasileiros ou outros imigrantes.
Trimestralmente acontece em Santa Bárbara D'Oeste (SP) a Reunião da Fraternidade Descendência Americana e, anualmente, acontece a festa dos descendêntes no Cemitério do Campo, onde descendentes, do país inteiro, vestidos com roupas típicas do sul dos E.U.A, se reunem para preservar suas tradições. A próxima reunião será no dia 08 de abril de 2001, para maiores informações consulte o Site da Fraternidade.
Desde de 1988 foi organizado pela Prefeitura de Sta. Bárbara D'Oeste o Museu do Imigrante que possui uma seção sobre os imigrantes americanos, com exposição permanente de objetos, documentos e fotos sedidas pela Fraternidade. O Centro de Memória desta mesma cidade, arquiva fotos e documentos que podem ser consultados se segunda a sexta das 8 às 12h e das 13h30 às 17h.
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