quinta-feira, 16 de junho de 2011

Porto da Folha


Porto da Folha tem pega de boi na caatinga. Município, famoso por suas autênticas vaquejadas, teve origem na Fazenda Curral do Buraco.

A região onde hoje é o município de Porto da Folha, a 190 quilômetros da capital, começou a ser conhecida no início do século XVII quando Tomé de Rocha Malheiros obteve uma sesmaria de dez léguas, partindo da Serra da Tabanga, ponto inicial do povoamento, até Jaciobá. Posteriormente, Gaspar da Cruz Porto Carreiro, Pedro de Figueiredo e Domingos da Cruz Porto Carreiro vieram substituir Rocha Malheiros na tentativa de colonização da zona, obtendo a sesmaria concedida por carta datada de 30 de agosto de 1625.

De acordo com a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, em 1682, Gerônimo da Costa Taborda fundou um sítio no velho Povoado Ilha do Ouro, e se estabeleceu com lavouras e criação de gado. Mas não prosperou por causa dos constantes saques que teriam sido promovidos por negros fugidos de mocambos.

Em novembro de 1807, o fidalgo Antônio Gomes Ferrão de Castelo Branco registrou seus títulos imobiliários na Câmara de Propriá, declarando ser de 30 léguas a extensão de suas terras, latifúndio que constituiu o morgado de Porto da Folha.


Fazenda Curral do Buraco



Porém, quem colonizou as terras de Porto da Folha foi Tomás de Bermudes, fundando um curral e fazendo amizade com os índios. “A fazenda Curral do Buraco originou a povoação do Buraco, que em 19 de fevereiro de 1841 passou a se chamar Nossa Senhora da Conceição de Porto da Folha”, informa a Enciclopédia. Até hoje quem nasce em Porto da Folha é conhecido por buraqueiro. Os moradores mais antigos acreditam que o nome Buraco surgiu porque a cidade é cercada de morros, dando a impressão de que fica em uma baixada.

Em 23 de março de 1870, a resolução número 841 transfere a sede da freguesia de Nossa Senhora de Porto da Folha para o povoado vizinho Boa Vista, mudando seu nome para Vila de Nossa Senhora da Conceição da Ilha do Ouro. E não parou por aí a série de mudanças. Em 28 de abril de 1870, a sede da vila voltou a ser Porto da Folha.

Essas modificações prejudicaram o município, principalmente porque a vila sede da cidade era distante oito quilômetros do porto mais próximo, situado na Ilha do Ouro, cuja ligação era feita por um caminho íngreme. Mesmo depois da construção da estrada, a situação não mudou muito porque ela era muito precária. O principal meio de transporte deixou de ser fluvial e passou a ser o rodoviário, mas o sonho da população é ter uma estrada em boas condições, para que o acesso à Ilha do Ouro seja facilitado e o turismo possa ser desenvolvido.


Porto da Folha foi elevado à categoria de município em 11 de fevereiro de 1896, através da Lei nº 194. Pela Lei Estadual nº 554, de 6 de fevereiro de 1954, Porto da Folha perde 64% de sua área para a criação dos municípios de Curituba (Canindé do São Francisco) e Poço Redondo. Hoje o município tem nove povoados: Lagoa da Volta, Lagoa do Rancho, Lagoa Redonda, Linda França, Niterói, Mocambo, Umbuzeiro do Matuto, Ilha de São Pedro e Ilha do Ouro.


A tradição da pega de boi na caatinga

A festa do vaqueiro de Porto da Folha foi criada em 1969. De acordo com um dos criadores do evento, o aposentado Antônio Alves de Farias, conhecido como Tonho de Chico, 68 anos, a pega de boi no meio da caatinga era o esporte do vaqueiro nas horas de folga.

Tonho de Chico, que trabalhava como vaqueiro, já participou de muitas competições com os colegas na mata, até que em 1969 o frei Angelino deu a idéia de que eles fizessem uma festa todos os anos. Eles criaram a Sociedade Recreativa Parque Nilo dos Santos, com uma diretoria de cinco pessoas, e Tonho de Chico foi eleito secretário. O primeiro presidente foi Antônio Pereira Feitosa, que logo depois foi eleito prefeito da cidade. Tonho também foi presidente da associação em dois mandatos.

Na primeira festa só compareceram poucos vaqueiros, os das redondezas. “A gente só soltou três bois no campo, ainda era uma festa pequena, mas ficamos muito satisfeitos”, lembra Tonho de Chico. Em 1970, por causa da grande seca, os vaqueiros não realizaram a festa, mas a partir de 1971 ela passou a acontecer todos os anos, sempre em setembro, “porque não é inverno e o campo ainda está verde”, explica Tonho.

“A gente começou a chamar os prefeitos e vaqueiros das cidades vizinhas e a festa cresceu. A cada ano mais gado era solto no campo para os vaqueiros pegar. Os que conseguiam eram aplaudidos na cidade, desfilavam com o boi todo enfeitado e ganhavam troféus”, lembra Tonho.

Hoje em dia as proporções da festa são muito maiores, pessoas de várias cidades de Sergipe e de fora do Estado vão à vaquejada, e são soltos na caatinga mais de cem bois. Tonho aponta mais uma diferença: “Os vaqueiros de hoje desfilam na cidade com a cara limpinha, na minha época era um prazer para a gente cavalgar pelas ruas com o rosto cortado pelo mato, mostrando nossa bravura”.

Comunidades negra e indígena

Uma curiosidade em Porto da Folha é que o município tem uma comunidade de negros remanescente de Quilombo e uma de índios Xocós.

O povoado Mocambo, às margens do Rio São Francisco, foi reconhecido oficialmente como remanescente de Quilombo pela Fundação Cultural Palmares, em 1997. A titulação de posse dos 2.100 hectares aconteceu em 2000, mas o processo de desapropriação dessas terras não está finalizado. Dois anos depois, as cem famílias do local sofrem muito por problemas fundiários e também com invasores que querem criar gado junto com as plantações da comunidade.

Atualmente, a população miscigenou-se muito, principalmente com índios, mas ainda tenta preservar as expressões da cultura negra como o trabalho coletivo, o samba de coco, dançado no dia da padroeira Santa Cruz e no dia da Consciência Negra, o uso de ervas medicinais, etc.

Índios Xocós


Já a Ilha de São Pedro preserva parcialmente as características do povo indígena. Quando os portugueses chegaram à foz do Opará, em 4 de outubro de 1501, existiam diversas tribos indígenas ocupando o vale do Rio São Francisco. Entre elas se encontravam os Xocós.

De acordo com a Enciclopédia dos Municípios, no final do século XVIII, fundaram nas terras do chefe indígena Pindaíba a Missão de São Pedro de Porto da Folha, sediada na Ilha de São Pedro, onde viviam 300 índios, que para sobreviver caçavam, pescavam e tinham uma pequena lavoura de mandioca. A comunidade foi entregue a sacerdotes capuchinhos e jesuítas. Atualmente, as 54 famílias que habitam a Ilha de São Pedro são índios Xocós.

A imposição do catolicismo e dos costumes europeus destruíram grande parte da cultura indígena. É tanto que os Xocós do local são católicos e o padroeiro do povoado é São Pedro, mas toda vez que tem missa, eles dançam Toré, um ritual sagrado realizado em um terreiro afastado da aldeia com dança, indumentária típica e bebida de jurema. A comunidade recebe também muitas influências externas, especialmente através de televisores e telefones públicos.

Ilha do Ouro tem grande potencial turístico

O belo e antigo povoado Ilha do Ouro é um verdadeiro oásis em pleno sertão. Localizado às margens do Rio São Francisco, tem um bom restaurante e bares que servem peixes como surubim e dourado, além de pitu e camarão.

O visitante que vai a Ilha do Ouro pode tomar banho de rio; conhecer a caibeira, uma árvore de mais de 300 anos na beira do Velho Chico, preservada pelos moradores do povoado; e apreciar a vista do Povoado Barra do Ipanema e o Morro da Ilha dos Prazeres, do lado alagoano.

O Povoado, que antes era chamado de Bela Vista nem é uma ilha e nem tem ouro. Segundo os moradores mais antigos, o nome surgiu por causa do cultivo de arroz, já que no período da colheita brotavam pendões amarelos, que parecem ouro.

As principais festas que acontecem na Ilha do Ouro são a de Bom Jesus, todos os anos, na segunda semana de janeiro, e o Carnaval.

A vida no rio


Os moradores da Ilha do Ouro reclamam da diminuição de peixes no São Francisco. O aposentado Manoel Alexandre Filho, 81 anos, que trabalhou como canoeiro e fabricante de canoas, diz que antes havia uma grandeza de peixes. “O pessoal fazia uma boa safra naquela época”, lembra ele.

Antônio Gomes Feitosa, de 91 anos, também trabalhou como canoeiro e sente falta do tempo da fartura de peixes e arroz. “Antes aqui tinha muito arroz e peixe. As mulheres trabalhavam toda a madrugada para tratar o peixe. Hoje até caça não tem mais, porque não tem mato”, lamenta ele.

Antônio lembra também que a ida de barco para Propriá não era demorada por causa da correnteza, mas a volta dependia do vento. “Se ele estivesse favorável, chegávamos logo, caso contrário, a viagem demorava até cinco dias. E foi isso que aconteceu no dia do meu casamento. Todo mundo foi à igreja, mas eu só cheguei três dias depois”, lembra Antônio.

Filhos ilustres do município

Seixas Dórea - ex-governador de Sergipe
Coronel Hermeto Feitosa - combatente na Revolução de 1932, comandou a Polícia Militar de Sergipe, foi deputado estadual por duas legislaturas e presidiu a Assembléia Legislativa
Aroaldo Santana - dono do cartório, ex-prefeito da cidade e ex-deputado estadual
Antônio Dantas - advogado, professor e ex-diretor de vários colégios da rede estadual
Edson Ulices - advogado e ex-presidente da OAB-SE
João José dos Anjos - ex-comandante da Polícia Militar
Francisco Cardoso - o ‘buraqueiro’ mais velho da atualidade, hoje com 103 anos. Foi agricultor, marceneiro, prefeito e juiz de paz
Antônio Carlos du Aracaju - cantor e compositor
Padres Lima, João Lima e Gervásio Feitosa
Freis Angelino, Honorato e Petrônio Cardoso
Porto da Folha hoje

Região: Norte (Sertão)
Distância da capital: 190 Km
População: 26.635
Atividades econômicas: agricultura (milho e feijão)

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