sábado, 18 de junho de 2011

Alagoas.


Alagoas é uma das 27 unidades federativas do Brasil e está situado a leste da região Nordeste. Tem como limites: Pernambuco (N e NO); Sergipe (S); Bahia (SO); e o oceano Atlântico (L). Ocupa uma área de 27.767 km², sendo ligeiramente maior que o Haiti. Sua capital é a cidade de Maceió.

É formado por 102 municípios e suas cidades mais populosas são Maceió, Arapiraca, Palmeira dos Índios, Rio Largo, Penedo, União dos Palmares, São Miguel dos Campos, Santana do Ipanema, Delmiro Gouveia, Coruripe, Marechal Deodoro e Campo Alegre.

Penúltimo Estado brasileiro em área (mais extenso apenas que Sergipe) e 16º em população, é um dos maiores produtores de cana-de-açúcar e coco-da-baía do país e tem na agropecuária a base de sua economia.

Terra do sururu, marisco das lagoas que serve de alimento à população do litoral, e da água de côco. Alagoas possui também um dos folclores mais ricos do país.

Inicialmente o território alagoano constituía a parte sul da Capitania de Pernambuco e só conseguiu sua autonomia em 1817. Sua ocupação decorreu da expansão para o sul da lavoura de cana-de-açúcar da capitania, que necessitava de novas áreas de cultivo. Surgiram assim Porto Calvo, Alagoas (atual Marechal Deodoro) e Penedo, núcleos que orientavam por muito tempo a colonização e a vida econômica e social da região.

A invasão holandesa em Pernambuco estendeu-se a Alagoas em 1631. Os invasores foram expulsos em 1645, depois de intensos combates em Porto Calvo, deixando a economia local totalmente desorganizada.

A fuga de escravos negros durante a invasão holandesa criou um sério problema de falta de mão-de-obra nas plantações de cana. Agrupados em aldeamentos denominados quilombos, os negros só foram dominados completamente no final do século XVII, com a destruição do quilombo mais importante, o de Palmares.

Durante o Império, a Confederação do Equador (1824) movimento separatista e republicano, recebeu o apoio de destacadas figuras alagoanas. Na década de 1840, a vida política local foi marcada pelo conflito entre os lisos, conservadores, e os cabeludos, liberais.

No início do século XX, o sertão alagoano viveu a experiência pioneira de Delmiro Gouveia, empresário pernambucano que instalou em Pedra a fábrica de linhas Estrela, que chegou a produzir 200 mil carreteis diários. Delmiro Gouveia foi assassinado em outubro de 1917 em circunstâncias até hoje não esclarecidas, depois de ser pressionado, segundo consta, a vender sua fábrica e firmas concorrentes estrangeiras. Depois de sua morte, suas máquinas teriam sido destruídas a atiradas na cachoeira de Paulo Afonso.

Apelidada de Terra dos Marechais, por nela terem nascidos os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, Alagoas deu ao país numerosos brasileiros ilustres entre os quais o antropólogo Arthur Ramos, o maestro Heckel Tavares, o filólogo Aurélio Buarque de Holanda, o poeta Jorge de Lima, os juristas Pontes de Miranda e Marcos Bernardes de Mello, além dos escritores Jorge de Lima, Lêdo Ivo e Graciliano Ramos.

O latim lacus, "tanque, lago" é a fonte, no acervo vocabular primtivo, do português, espanhol e italiano lago,[5] francês lac,[6] um seu derivado, o latim lacuna, "fojo, buraco", "falta, carência, omissão", explica o espanhol e italiano laguna.[7][8] Mas o português lagoa,[5] coincidente com a variante espanhola lagona, mirandês llagona, supõe mudança de sufixo,[9] documentada já em 938 num documento de Valencia, sob a grafia lacona,[5] e noutro de 1094, de Sahagún, sob a grafia lagona.[5] O português lagoa sob a grafia lagona (talvez lagõna), é documentado no século XIV,[5] e alternou com a outra por longo tempo; a prótese se explica já por incorporação do artigo, sobretudo em locuções (na lagoa, vindo da lagoa),[5] já por regularização morfológica com os derivados do verbo alagar (alagadiço, alagado, alagador, alagamento, etc.).[5]

O nome aparece como concorrente dos nomes das lagoas Manguaba e Mundaú, aquela "alagoa do sul", esta "alagoa do norte", já no século XVI, quando se fundam perto os núcleos de povoamento de Alagoa do Norte e Alagoa do Sul, as Alagoas, com inclusão das demais da área.[10]

O sufixo do gentílico é o característico da área gentílica de -ano do Brasil (paraibano, pernambucano, alagoano, sergipano, baiano, goiano, a que viria juntar-se acriano).[5]

A costa do atual Estado de Alagoas, reconhecida desde as primeiras expedições portuguesas, desde cedo também foi visitada por embarcações de outras nacionalidades para o escambo de pau-brasil (Caesalpinia echinata).

Quando da instituição do sistema de Capitanias Hereditárias (1534), integrava a Capitania de Pernambuco, e a sua ocupação remonta à fundação da vila do Penedo (1545), às margens do rio São Francisco, pelo donatário Duarte Coelho, que incentivou a fundação de engenhos na região. Palco do naufrágio da Nau Nossa Senhora da Ajuda e subsequente massacre dos sobreviventes, entre os quais o Bispo D. Pero Fernandes Sardinha, pelos Caeté (1556), o episódio serviu de justificativa para a guerra de extermínio movida contra esse grupo indígenas pela Coroa portuguesa.

Ao se iniciar o século XVII, além da lavoura de cana-de-açúcar, a região de Alagoas era expressiva produtora regional de farinha de mandioca, tabaco, gado e peixe seco, consumidos na Capitania de Pernambuco. Durante as invasões holandesas do Brasil (1630-1654), o seu litoral se tornou palco de violentos combates, enquanto que, nas serras de seu interior, se multiplicaram os quilombos, com os africanos evadidos dos engenhos de Pernambuco e da Bahia. Palmares, o mais famoso, chegou a contar com vinte mil pessoas no seu apogeu.

Constituiu-se em a Comarca de Alagoas em 1711, e foi desmembrado da Capitania de Pernambuco (Decreto de 16 de setembro de 1817), em consequência da Revolução Pernambucana daquele ano. O seu primeiro governador, Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, assumiu a função a 22 de janeiro de 1819.

Durante o Brasil Império (1822-1889), sofreu os reflexos de movimentos como a Confederação do Equador (1824) e a Cabanagem (1835-1840). A Lei Provincial de 9 de dezembro de 1839 transferiu a capital da Província da cidade de Alagoas (hoje Marechal Deodoro), para a vila de Maceió, então elevada a cidade.

A primeira Constituição do Estado foi assinada em 11 de junho de 1891, em meio a graves agitações políticas que assinalaram o início da vida republicana. Os dois primeiros presidentes da República do Brasil, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, nasceram no estado.

Barra Grande deve ter sido o primeiro ponto do território das Alagoas visitado pelos descobridores, por ocasião da viagem de Américo Vespúcio, em 1501.[11] Embora não haja referência àquele porto, excelente para a acolhida de navios, como a expedição vinha do norte para o sul, cabe crer que tenha ocorrido ali o primeiro contato com a terra alagoana.[12] A 29 de setembro Vespúcio assinalou um rio a que chamou São Miguel, no território percorrido;[12] a 4 de outubro denominou São Francisco o rio então descoberto, hoje limite de Alagoas com Sergipe.[13]

Sem sombra de dúvida, nas décadas seguintes, os franceses andaram pela costa alagoana, no tráfico do pau-brasil com os selvagens dos arredores.[14] Até hoje o porto do Francês documenta a presença, ali, daquele povo.[14]

Duarte Coelho, primeiro donatário da capitania de Pernambuco,[12] realizou uma excursão ao sul; não há documentos que a comprove, mas há evidências de que tenha sido realizada em 1545 e de que dela resulte a fundação de Penedo, às margens do rio São Francisco.[15]

Em 1556, voltava da Bahia para Portugal o bispo dom Pero Fernandes Sardinha, quando seu navio naufragou defronte da enseada do hoje pontal do Coruripe.[16] Sardinha foi morto e devorado pelos caetés, uma das numerosas tribos indígenas então existentes na região.[16] Perdura a crença popular de que a ira divina secou e esterilizou todo o chão manchado pelo sangue do religioso.[17] Para vingá-lo, Jerônimo de Albuquerque comandou uma expedição guerreira contra os caetés, destruindo-os quase completamente.[17]

Em 1570, uma segunda bandeira enviada por Duarte Coelho, comandada por Cristóvão Lins, explorou o norte de Alagoas, onde fundou Porto Calvo e cinco engenhos, dos quais subsistem dois, o Buenos Aires e o Escurial.[18] Neste último repousou, em 1601, o corsário inglês Anthony Knivet, que viajara por terra após fugir da Bahia, onde estivera prisioneiro dos portugueses.[17]

No princípio do século XVII, Penedo, Porto Calvo e Alagoas já eram freguesias,[19] admitindo-se que tais títulos lhes tivessem sido conferidos ainda no século anterior.[17] Foram vilas, porém, em 1636.[19] Repousando a economia regional na atividade açucareira, tornaram-se os engenhos de açúcar os núcleos principais da ocupação da terra.[17] A partir de 1630, Alagoas, atingida pela invasão holandesa,[20] teve povoados, igrejas e engenhos incendiados e saqueados.[17]

Os portugueses reagiram duramente.[17] Batidos por sucessivos reveses, os holandeses já desanimavam, pensando em retirar-se, quando para eles se passa o mameluco Domingos Fernandes Calabar, de Porto Calvo.[21] Grande conhecedor do terreno, orientou os holandeses em uma nova expedição a Alagoas.[21] Os invasores aportaram à Barra Grande, de onde passaram a vários pontos, sempre com bom êxito.[17] Em Santa Luzia do Norte, a população, prevenida, ofereceu resistência.[22] Após encarniçada peleja, os holandeses recuaram e retornaram a Recife.[17] Mas, caindo em seu poder o arraial do Bom Jesus, entre Recife e Olinda, obtiveram várias vitórias.[17]

Alagoas, Penedo e Porto Calvo: eis os pontos principais onde se trava a luta em terras alagoanas.[17] Por fim, os portugueses retomaram Porto Calvo e aprisionaram Calabar, que morreu na forca em 1635.[21] Clara Camarão, uma porto-calvense de sangue indígena, também se salientou na luta contra os holandeses.[23] Acompanhou o marido, o índio Filipe Camarão, em quase todos os lances e arregimentou outras mulheres, tomando-lhes a frente.[17]

Por volta de 1641, afirmava um chefe holandês estar quase despovoada a região.[24] Maurício de Nassau pensou em repovoá-la,[24] mas o projeto não foi adiante.[17] Na época também se produzia fumo em Alagoas, considerado de excelente qualidade o de Barra Grande.[17] Em 1645, a população participou da reação nacionalista, integrando-se na luta sob o comando de Cristóvão Lins, neto e homônimo do primeiro povoador de Porto Calvo. Expulsos os holandeses do território alagoano, em setembro de 1645,[25] prossegue a população em sua luta contra eles, já agora, todavia, em território pernambucano.[17]

Em fins do século XVII intensificam-se as lutas contra os quilombos negros reunidos nos Palmares.[26] Frustradas as primeiras tentativas de Domingos Jorge Velho, sobretudo em 1692,[27] dois anos depois o quilombo é derrotado,[28] com o ataque simultâneo de três colunas:[17] uma, dos paulistas de Domingos Jorge; outra, de pernambucanos, sob o comando de Bernardo Vieira de Melo;[17] e a terceira, de alagoanos, comandados por Sebastião Dias.[17] Palmares começara a formar-se ainda nos fins do século XVI, e resistiu a sucessivos ataques durante quase um século.[29]

Um dos maiores redutos de escravos foragidos do Brasil colonial,[30] Palmares ocupava inicialmente a vasta área que se estendia, coberta de palmeiras, do cabo de Santo Agostinho ao rio São Francisco.[29] A superfície do quilombo, progressivamente reduzida com o passar do tempo, concentrar-se-ia, em fins do século XVII, na ainda extensa região delimitada pelas vilas de Una e Serinhaém, em Pernambuco, e Porto Calvo, Alagoas e São Francisco (Penedo), em Alagoas.[29] Os escravos haviam organizado no reduto um verdadeiro estado, segundo os moldes africanos, com o quilombo constituído de povoações diversas (mocambos), pelo menos 11, governadas por oligarcas, sob a chefia suprema do rei Ganga-Zumba.[29] A partir de 1667, amiudaram-se as entradas contra os negros, a princípio com a finalidade de recapturá-los, em seguida com a de conquistar as terras de que se haviam apoderado.[29] As investidas do sargento-mor Manuel Lopes (1675)[31] e de Fernão Carrilho (1677)[31] seriam desastrosas para os quilombolas, obrigados a aceitar a paz em condições desfavoráveis.[17] Apesar desse revés, a luta prosseguiria, liderada por Zumbi, sobrinho de Ganga-Zumba, contra cujas hostes aguerridas, em seguida a uma primeira expedição punitiva, em 1679,[17] e a diferentes entradas sem maiores consequências, se voltaria finalmente o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, para tanto contratado pelo governador de Pernambuco, João da Cunha Souto Maior.[32] Nos primeiros meses de 1694, aliado a destacamentos alagoanos e pernambucanos, sob o comando, respectivamente, de Sebastião Dias e Bernardo Vieira de Melo, Velho liquidaria a derradeira resistência do quilombo.[33] Zumbi lograria escapar, arregimentando novos combatentes, mas, traído, ver-se-ia envolvido por forças inimigas, com cerca de vinte de seus homens, perecendo em luta, a 20 de novembro de 1695.[34] Desaparecia, após mais de sessenta anos, o quilombo dos Palmares, "o maior protesto ao despotismo que uma raça infeliz traçou à face do mundo", no dizer de Craveiro Costa.[35]

Já então apresentavam as Alagoas indícios de prosperidade e desenvolvimento, quer do ponto de vista econômico, quer do cultural.[35] Sua principal riqueza era o açúcar, sendo além disso produzidos, embora em menor escala, mandioca, fumo e milho; couros, peles e pau-brasil eram exportados.[35] As matas abundantes forneciam madeira para a construção de naus. Nos conventos de Penedo e das Alagoas os franciscanos mantinham cursos e publicavam sermões e poesias.[35] Tudo isso justificou o ato régio de 9 de outubro de 1710, criando a comarca das Alagoas,[36] que somente se instalou em 1711.[37] Daí em diante, a organização judiciária restringia o arbítrio feudal dos senhores, e até o dos representantes da metrópole. A comarca desenvolvia-se.[35] Já em 1730 o governador de Pernambuco, propondo a el-rei a extinção da decadente capitania da Paraíba, assinalava a prosperidade de Alagoas, com seus quase cinquenta engenhos, dez freguesias, e apreciável renda para o erário real.[38] Ao lado do açúcar, incrementou-se a cultura do algodão.[35] Seu cultivo foi introduzido na década de 1770;[35] em 1778, já se exportavam para Lisboa amostras de algodão tecido nas Alagoas.[35] Em Penedo e Porto Calvo, fabricava-se pano ordinário, para uso, sobretudo, de escravos. Em 1754, frei João de Santa Ângela publicou, em Lisboa, seu livro de sermões e poesias;[39] é a primeira obra de um alagoano.[39] A população crescia, distribuindo-se em várias atividades.[35] Um cômputo demográfico mandado realizar em 1816 pelo ouvidor Antônio Ferreira Batalha registrava uma população de 89.589 pessoas.[35]

Três anos depois, em 1819, novo recenseamento acusou uma população de 111.973 pessoas.[35] Contavam-se, então, na província, oito vilas.[35] Alagoas já se constituíra capitania independente da de Pernambuco, criada pelo alvará de 16 de setembro de 1817.[40] A repercussão da Revolução Pernambucana desse ano contribuiu para facilitar o processo de emancipação.[35] O ouvidor Batalha foi o principal mentor da gente alagoana.[35] Aproveitando-se da situação e infringindo as próprias leis régias, desmembrou a comarca da jurisdição de Pernambuco e nela constituiu um governo provisório.[35] Esses atos foram suficientes para abrir caminhos que levaram D. João a sancionar o desmembramento.[35] Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, governador nomeado, só assumiu o governo a 22 de janeiro de 1819.[41]

Acentuou-se a partir de então o surto de prosperidade de Alagoas.[35] Em 17 de agosto de 1831 apareceu o Íris Alagoense, primeiro jornal publicado na província, assim considerada a partir da independência do Brasil e organização do império.[42] É certo que os primeiros anos de independência não foram fáceis.[35] Uma sequência de movimentos abalou a vida provincial:[35] em 1824, a Confederação do Equador;[35] em 1832-1835, a Cabanada; em 1844, a rebelião conhecida como Lisos e Cabeludos;[35] em 1849, a repercussão da revolução praieira.[35]

Em 1839 a capital, então situada na velha cidade das Alagoas, foi transferida para a vila de Maceió, localizada à beira-mar, no caminho entre o norte, o centro e o sul da província.[43] No processo de mudança defrontaram-se as duas facções políticas mais importantes, uma chefiada pelo mais tarde visconde de Sinimbu,[35] outra pelo juiz Tavares Bastos,[35] pai do futuro pensador Tavares Bastos, nascido, aliás, nesse ano de 1839.[44] Naquele momento a província possuía oito vilas.[35] Desde 1835 funcionava a assembleia provincial.[35]

No governo da província sucediam-se os presidentes nomeados pelo imperador, nem sempre interessados pelos destinos da terra, outras vezes envolvidos por lutas partidárias.[35] A província, contudo, progredia.[35] No campo da economia, vale salientar a fundação, em 1857, da primeira fábrica alagoana de tecidos, a Companhia União Mercantil, no distrito de Fernão Velho.[45] Idealizou-a o barão de Jaraguá, contribuindo dessa forma para o fomento da economia regional.[35] Trinta anos mais tarde, fundou-se a Companhia Alagoana de Fiação e Tecidos, que em 15 de outubro de 1888 se instalou em Rio Largo.[46] Seguiu-se a esta, em 30 de setembro de 1892, a fundação da Companhia Progresso Alagoano, em Cachoeira.[35] Dessa atividade têxtil surgiram, com grande prestígio nacional, as toalhas da Alagoana.[35]

O ensino recebeu incentivo com a instalação em 1849, do Liceu Alagoano, destinado ao nível médio;[45] é hoje o Colégio Estadual de Alagoas.[45] O ensino primário, já beneficiado em 1864 pelo estabelecimento de uma escola normal,[35] hoje funcionando sob a denominação de Instituto de Educação,[35] recebeu expressivo impulso com a criação de novas escolas.[35] Com a fundação, em 1869, do Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano, hoje Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas,[47] desenvolveram-se os estudos históricos e geográficos.[35] Do final do império ao início da república, incrementou-se o movimento para a construção de engenhos centrais e aperfeiçoamento técnico da fabricação de açúcar, o que iria dar origem às usinas, a primeira delas constituída, todavia, já no período republicano.[48]

Os movimentos abolicionista e republicano dos últimos anos da monarquia atingiriam a província, o primeiro deles através da Sociedade Libertadora Alagoana e dos jornais Gutenberg e Lincoln.[48] A campanha abolicionista mobilizou a intelectualidade alagoana, sem entretanto chegar aos excessos da violência.[48] Professores e jornalistas atraíram a mocidade para a campanha, e após a abolição, em 1888, foi um mestre como Francisco Domingues da Silva que teve a iniciativa da criação de um instituto de ensino profissional, destinado aos filhos dos ex-escravos.[48]

O movimento republicano, intensificado pela abolição, traduziu-se nas atividades da imprensa e clubes de propaganda.[48] O mais importante destes foi o Centro Republicano Federalista, também, de certo, o mais antigo; outros foram o Clube Federal Republicano e o Clube Centro Popular Republicano Maceioense, ambos existentes na capital no momento da proclamação.[48] No interior havia igualmente outros clubes de propaganda. O Gutenberg era o órgão de imprensa mais veemente na difusão da ideia republicana.[48]

No mesmo dia em que, no Rio de Janeiro, era proclamada a república, em Maceió assumia a presidência o dr. Pedro Ribeiro Moreira, último delegado do governo imperial para a província.[48] Confirmada a mudança do regime, organizou-se a princípio uma junta governativa, mas a 19 de novembro o marechal Deodoro designou o irmão, Pedro Paulino da Fonseca, para governar o novo estado.[48] Foi ele também o primeiro governador eleito após promulgada a constituição estadual, em 12 de junho de 1891.[49]

Perturbados e incertos decorreram os primeiros dez anos de vida republicana, na província.[48] Governos se sucediam, nomeados pelo poder central ou eleitos pelo povo, mas quase sempre substituídos ou depostos.[48] Constituíram-se várias juntas governativas, numa ou noutra oportunidade.[48] Somente no fim do século XIX, ou melhor, já nos primeiros anos do século XX, a situação se consolidou com os governos do barão de Traipu e de Euclides Malta, o primeiro da chamada "oligarquia Malta", que se prolongou até 1912.[48] Euclides governou de 1900 a 1903;[48] sucedeu-lhe o irmão, Joaquim Paulo, no período de 1903 a 1906;[48] Euclides voltou ao poder de 1906 a 1909, e, reelegendo-se nesse ano, permaneceu por mais um triênio, até 1912.[48]

Os 12 primeiros anos do século se assinalaram por lutas partidárias.[48] Contudo, não houve paralisação nas diferentes atividades do estado.[48] Maceió ganhou numerosos prédios públicos, como o palácio do governo, inaugurado a 16 de setembro de 1902, o Teatro Deodoro e o edifício da municipalidade, ainda hoje existentes.[48] Com a atividade pedagógica de Alfredo Rego, procedeu-se à reforma do ensino, atualizando a anterior, ainda dos fins do império, orientada por Manuel Baltasar Pereira Diegues Júnior, criador do Instituto de Professores, posteriormente chamado Pedagogium, iniciativa pioneira na época.[48] Nova remodelação do ensino se fez em 1912-1914, sob a orientação do segundo daqueles educadores. Criou-se o primeiro grupo escolar.[48]

Em 1912, o Partido Democrata conseguiu derrotar a oligarquia Malta depois de enérgica campanha, em que se registraram ferrenhas lutas de rua, inclusive com a morte do poeta Bráulio Cavalcanti, em praça pública, quando participava de um comício democrático.[48] Clodoaldo da Fonseca, governador eleito, embora não fosse alagoano, ligava-se ao estado através da família:[48] era sobrinho de Deodoro e filho de Pedro Paulino e, assim, parente do marechal Hermes, então presidente da república.[48]

As lutas contra os Malta envolveram igualmente os grupos do culto afro-brasileiro. Xangôs e candomblés, diziam os jornais da oposição, tinham o governador Malta como estimulador.[48][50] Entre papéis de orações, de panos com símbolos desenhados de Ogum, de Ifá, de Exu, foram encontrados retratos dos chefes democratas da oposição.[50] O grupo que apoiava o governador era chamado de Leba, por alusão a uma das figuras do orixá dos xangôs.[50] O que valeu de tudo isso é que o acervo apreendido pela polícia se preservou — peças, objetos, insígnias e símbolos do culto, conservados no museu do Instituto Histórico como uma das coleções mais preciosas do culto afro-brasileiro
Até 1930 o Partido Democrata manteve a situação, através dos governadores que sucederam a Clodoaldo.[50] Cada um deles deu uma contribuição para o progresso do estado.[50] Abriram-se estradas de rodagem em direção ao norte e ao centro, e posteriormente o trecho de Atalaia e a Palmeira dos Índios, estrada de penetração para a zona sertaneja;[50] construíram-se grupos escolares em quase todos os municípios;[50] Maceió renovou-se com a abertura de ruas e avenidas;[50] combateu-se a criminalidade, principalmente com o movimento contra o banditismo, que culminaria, em 1938, com o extermínio do grupo de Lampião;[50] promoveram-se pesquisas petrolíferas.[50] As sucessões políticas praticamente se fizeram sem luta, pois quase sempre predominava o candidato único, oriundo do Partido Democrata.[50]

Com a vitória da revolução de outubro de 1930, também sem luta armada no estado, iniciou-se o sistema de interventores (com breve interrupção entre 1935 e 1937) até 1947, quando a redemocratização do país propiciou a promulgação de uma nova constituição para o estado.[50] O chamado período das interventorias foi igualmente fecundo, malgrado a falta de continuidade nas administrações, quase sempre de curtos períodos.[50] Nesse período, entre outros fatos marcantes destacaram-se os trabalhos de pesquisa do petróleo;[50] a construção do porto de Maceió, inaugurado em 1940;[50] o incremento das atividades econômicas, sobretudo com a diversificação da produção agrícola e a implantação da indústria leiteira em Jacaré dos Homens, constituindo-se a cooperativa de laticínios para a produção de leite, manteiga e queijo;[50] o incremento do ensino rural e a ampliação do cooperativismo.[50] Tal desenvolvimento possibilitou que, no período da segunda guerra mundial, Alagoas contribuísse, de maneira efetiva, para o abastecimento de estados vizinhos, sem prejuízo de sua colaboração para o esforço de guerra.[50] Constituiu-se, com a criação da usina Caeté, a primeira cooperativa de plantadores de cana.[50]

As atividades intelectuais também se desenvolveram, não apenas com o Instituto Histórico, mas ainda com a criação da Academia Alagoana de Letras, em 1919,[51] e a formação de centros literários de jovens como a Academia dos Dez Unidos, o Cenáculo Alagoano de Letras e o Grêmio Literário Guimarães Passos.[50] Em 1931, fundou-se a Faculdade de Direito, e em 1954 a Faculdade de Ciências Econômicas.[50] Depois essas duas faculdades, e mais as de odontologia, medicina, engenharia e serviço social uniram-se para formar a Universidade Federal de Alagoas.[50]

As lutas políticas estaduais ganharam força na década de 1950.[50] Quando da tentativa de impeachment do governador Muniz Falcão, em 1957, um tiroteio na assembleia legislativa causou a morte do deputado Humberto Mendes, sogro do governador.[52] E em toda a segunda metade do século XX manteve-se a tensão política, enquanto os ganhos oriundos do sal-gema, do açúcar e do petróleo não beneficiavam a população.[50]

Em 1979, o ex-governador Arnon de Melo, então senador, conseguiu do governo militar a nomeação de seu filho Fernando Afonso Collor de Melo, para prefeito de Maceió.[53] Em 1988, um acordo entre Collor, já então governador, e as usinas de açúcar e álcool, principais contribuintes do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços no estado, permitiu que estas reduzissem sua carga tributária.[50] A queda de receita agravou a histórica crise social e econômica do estado e gerou um quadro falimentar que levou o governo federal a uma intervenção não-oficial em 1997.[50] Depois de nomeado um novo secretário de Fazenda, o governador Divaldo Suruagy se afastou, cedendo o posto ao vice-governador.

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