quinta-feira, 16 de junho de 2011
Frei Angelino Caio Feitosa.
Frei Angelino Caio Feitosa, 80, nasceu em Porto da Folha (SE). Ingressou na Ordem dos Irmãos Menores, franciscanos em 7 de dezembro de 1945. Desde os primeiros anos de ordenado, vem dirigindo retiros para várias congregações e dioceses. A partir de 1994, os retiros se tornaram específicos de contemplação, incluindo treinamento prático. Frei Angelino é conhecido por ensinar “a oração que liberta a pessoa de si mesma, de todo peso da vida passada e abre para um futuro renovado”. Ele mesmo experimenta a vida contemplativa e sabe comunicar aos outros o que aprendeu. E mostra o caminho do silêncio e da contemplação nos encontros que realiza. Algumas palestras proferidas por ele foram gravadas por amigos, transcritas e submetidas à sua revisão, que autorizou a publicação em forma dos livros: “Ao Encontro de Você” e “Chão Necessário”. Na manhã do último sábado, 5, ele esteve em Icoaraci, para pregar durante um retiro sobre oração para a um grupo de leigos e religiosos, vindos de cinco dioceses, reunidos na casa Santa Rosa. Durante um breve intervalo, frei Angelino, concedeu entrevista exclusiva à repórter Vladiana Alves e falou, entre outras coisas, sobre a necessidade do homem encontrar a verdadeira oração. Para frei Angelino “a oração verdadeira deve ser aquela em que Deus é o sujeito para mim. Tem que ser mais de silêncio, de ausência de conceitos e mais de presença de si mesmo diante do Pai”, ensina. Ele destaca também a necessidade de se encontrar, em meio a tanta pressa do mundo moderno, um tempo para a reflexão e meditação pessoal. O eremita ensina a agir dando a nós mesmos silêncio e paz “como um presente”. “Pode-se começar encontrando, duas vezes por dia, um tempo de apenas vinte minutos, para ficar quieto, num cantinho mais oculto possível para não ser interrompido e se entregar ao Pai”, propõe.
Por que ser um eremita?
Não é ser eremita que é bom. É ser este companheiro contínuo desse Jesus Cristo, que veio para nós, e veio nos dar a sua alegria, para que a nossa alegria seja completa. Se há crise no mundo hoje é por causa da ausência de alegria verdadeira. Há muita satisfação, muita procura de prazer, mas pouca alegria. Nunca houve tanto suicídio no mundo como agora. Por isso procuro o lugar do silêncio, da ausência do barulho, e a presença grande dos sinais de Deus, como num canto do pássaro, no farfalhar das árvores. Meu chamado para a vida de eremita não foi fácil, pois a tradição deste recolhimento foi quebrada e foi vista com certa desconfiança de que, na verdade, procurava-se evitar o mundo, e não é isso. Na verdade é justamente estar no mundo com mais presença do que antes. Há 20 anos tenho a vida contemplativa de um eremita, mas a realização veio em 1991. A vida de eremita não se trata de coisas intelectuais, de filosofia, mas de sede de ser feliz. Sou uma pessoa, usando uma certa expressão, bem estudada. Mas senti que a realização não estava aí, na mente, mas em outro espaço mais holístico, mais inteiro e verdadeiro de todo o meu ser.
Qual a importância da oração na vida da pessoa e por que devemos orar?
Vivo a oração e procuro a espalhar por aí, pois esta comunhão contínua do mistério do amor, que é Deus, faz-me muito mais eu mesmo. Com a verdadeira oração nós vamos descobrindo quem somos na verdade. Pensamos que somos de um jeito, porque temos os padrões do mundo a seguir, que a família e a escola nos passam, mas vamos aos poucos descobrindo que nosso eu verdadeiro é outro. Gustav Jung (psiquiatra suíço 1875-1961) fala justamente deste eu-falso e do eu-verdadeiro, e deu uma contribuição muito boa para a compreensão disso na psicologia. Ele fala deste verdadeiro eu que é ignorado. E percebo que de um tempo para cá esta ignorância aumentou na sociedade, mais especificamente a partir dos anos 80 até hoje. E o estrago maior é sentido nos jovens, dado os meios fáceis de comunicação, que estão retirando as pessoas desse encontro com a dimensão mais profunda de si mesma. Portanto, a oração é importante, mas não deve ser assim: o sujeito, que sou eu, falando para Deus. A oração verdadeira deve ser aquela em que Deus é o sujeito para mim. Tem que ser mais de silêncio, de ausência de conceitos e mais de presença de si mesmo diante do Pai.
O senhor diria que o homem desaprendeu a orar, ou na verdade nunca aprendeu direito?
Digo que hoje o homem desaprendeu a essência da oração. Ficou muito em reflexões, em conceitos, fórmulas e afirmações para Deus, pedindo que Deus faça a nossa vontade, quando na verdade o caminho da felicidade é o inverso, que eu faça a vontade Dele.
O senhor acredita no poder da cura através da oração?
Sim. Mas não acredito na cura mágica. Eu fiquei curado de um mundo de mazelas. Tive na adolescência problemas no pulmão, fui internado num tempo que se morria muito por causa disso. Não morri e fiquei com algumas seqüelas, mas acabou-se. Então, posso dizer que acredito muito nesta cura que vem da parte de Deus. Mas da cura mágica tenho certo receio e interrogações, que claro que são facilitadas por energias psicológicas. Mas a verdadeira cura pela oração vem de Deus agindo em nós.
A sociedade pós-moderna vive tempos de pressa e inquietação. Como o homem moderno pode encontrar e manter tempo para a reflexão, oração, contemplação e silêncio?
O homem de hoje vai descobrindo que não é por aí, por estes meios de correria e pressa, que vai encontrar a verdadeira felicidade. Então, ele busca o sagrado e muitas vezes, infelizmente, não no cristianismo, mas no budismo e outras manifestações de religião, mas quando descobre que é na sua antiga religião com Jesus (cristinianismo), então é uma beleza.
E tudo isto está ao alcance de todos? Basta querer?
Eu diria que basta agir. Querer é muito pouco. É preciso agir dando a nós mesmos silêncio e paz como um presente. Pode-se começar encontrando, duas vezes por dia, um tempo de apenas vinte minutos, para ficar quieto, num cantinho mais oculto possível para não ser interrompido e se entregar ao Pai. Com o corpo e alma. Relaxar o corpo é importante. Há muitas meditações e relaxamento orientação, mas a nossa meditação cristã é baseada nesta entrega à ação divina em nós.
Por falar em meditação, que virou um modismo, com aulas de yoga e tudo mais, qual o perigo de tudo isso, uma vez que são práticas sem nenhuma espiritualidade?
As pessoas que têm atração por isso podem até fazer. Mas é preciso descobrir o lado cristão para ir bem mais depressa para o efeito real de encontro da verdadeira felicidade. Com as meditações e yogas o homem pode se sentir bem, e sentir que os benefícios são conseguidos pelo homem mesmo, pois só fato de se recolher já tem um efeito bom. Mas o homem corre o risco de ficar orgulhoso, e com a maneira cristã de contemplação você fica mais humilde, descobrindo as suas falhas, seus limites e amando os seus limites, sabendo que você é um ser humano que precisa melhorar.
O senhor é conhecido por ter criado a Oração da Libertação. Há muitos testemunhos de pessoas em relação a isso que afirmam que “frei Angelino ensina a oração que liberta a pessoa de si mesma, de todo peso da vida passada e abre para um futuro renovado”. Como conseguir esta libertação?
A libertação se dá dentro de você. Cada um se libera das amarras que o mundo colocou, das algemas. Você se liberta destas correntes, especialmente das que são colocadas pela televisão atualmente. É preciso dizer não a tudo isso.
Por que se diz que toda a atividade da Igreja precisa de oração?
Porque sem este espírito de oração, que não é a oração apenas de ‘blá-blá-blá, de eu falando a Deus, a ação da Igreja não acontece. Não há força para o trabalho das comunidades. Mas é preciso que a tônica da oração seja de eu ser marcado pela palavra de Deus, que não é uma palavra conceitual, mas sim reconhecendo que Jesus é palavra de Deus encarnada e que quer se encarnar na minha pessoa.
O senhor é também conhecido pelo incentivo à vida comunitária de partilha. Por que é tão difícil conquistar isso hoje, mesmo dentro da Igreja?
É justamente porque se dá muita força ao ego. Falso ego. E pouca atenção ao eu-verdadeiro. Ao ser oculto, ao ser profundo, que os índios souberam viver tão bem. Mas, hoje estão se espalhando pelo Brasil alguns exemplos de comunhão e partilha. Em Pernambuco, por exemplo, existem 40 grupos de partilha e oração. Isso é muito atraente, sobretudo para o laicato.
Com toda a sua experiência pregando retiros sobre oração em diversos locais do Brasil, como o senhor tem sentido a procura das pessoas por este tema? A oração tem sido buscada como uma necessidade urgente ou não?
Sim. Há muito interesse. Em Pernambuco conheci algumas pessoas que foram para a Índia, Japão e conheci uma mulher que passou três ano no Japão e veio consagrada monja. Ela voltou para cá e se encontrou novamente na sua religião cristã. Também conheço um casal que fundou uma casa de oração, a partir do budismo, e me chamou para pregar para mais de 60 pessoas. Então podemos perceber que as pessoas estão procurando mais a oração, que sem a oração a pessoa se perde.
É possível mudar as mazelas do mundo através do poder da oração?
Acho que sim. Mas sempre gosto que fique bem claro uma necessidade: “eu dou a Deus esta força e poder que Ele já colocou em mim, e que eu não posso esquecer de associar à força Dele”. Cada um de nós deve lembrar o que nos diz o Salmo 8: ‘Deus nos deu força e poder’. E, às vezes, nós estragamos esta força e poder para conseguir besteiras, satisfações pessoais como dinheiro e poder.
O senhor já publicou diversos livros como “Ao encontro de você” e “Chão necessário”. Há alguma publicação prevista para breve?
Os livros publicados, na verdade não são preparados por mim mesmo. Eu prego durante os retiros, algumas pessoas gravam e elaboram a publicação. Meu trabalho é simplesmente de ler e revisar. Os próximos livros serão publicações dos retiros que fiz em São Paulo, Recife. E um último trabalho, sem previsão de conclusão ainda, é de um jovem paulista que sempre me acompanha nos encontros de espiritualidade, anotando coisas dos meus retiros, e que está fazendo a organização para a publicação deste trabalho.
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3 comentários:
Quando eu tive o primeiro contato com Frei Angelino em Serrambi-Pe, parecia que eu estava diante de Jesus.(Em sua casa
Quando eu tive o primeiro contato com Frei Angelino em Serrambi-Pe, parecia que eu estava diante de Jesus.(Em sua casa
Por favor, gostaria de saber onde está ocorrendo encontros para contemplação . Há algum tempo foi em nossa residência em Olinda. Desejo dar continuidade à contemplação
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