quarta-feira, 15 de junho de 2011

Suor e Luta. Retomada do patrimônio Xocó.


Abordaremos agora mais um momento de luta do povo Xocó, a retomada da ilha de São Pedro, o medo de ser morto dos índios, e a luta pela Caiçara.

Os Xocós não tiveram outra saída a não ser retomar o único pedaço de terra que é a Ilha de São Pedro, antiga missão de Porto da Folha. Começaram a pedir auxilio da igreja, do Conselho Indigenista missionário (CIMI), sindicatos e muitos outros órgãos, e amigos, na certeza que tinham direito de readquirir a sua terra, pois tinham a garantia de serem os verdadeiros donos daquela terra.
Foi ai que tudo começou. Resolveram fazer a retomada da Ilha de São Pedro em setembro de 1978, cercando-a completamente. Após o cercamento da ilha, continuaram morando na Caiçara, ficaram quase um ano sendo intimidados pelo Juiz de Direito de Porto da Folha, pelo delegado de Policia e pela Policia Federal.

Os Xocós ficavam indo dar depoimentos em todos esses locais e nada se resolvia. Em várias reuniões da comunidade, chegavam à conclusão de que nenhuma solução seria tomada a favor deles, e uma decisão teria que ser tomada, ou seja, entrar na terra que havia sido cercada por eles. Procuraram as autoridades e muitos órgãos que deram força, coragem e apoio e um ano depois, em nove de setembro de 1979 decidiram se mudar para a ilha.

Após essa entrada na ilha. A violência cometida pelos fazendeiros foi ponto principal da luta, chegando a colocar jagunços (pistoleiros pagos) contra os índios. Com intuito de perseguir, massacrar e fazer o recuo dos índios Xocós.

Quando chegaram à ilha, só encontraram a Igreja do Padroeiro São Pedro, o cemitério e as ruínas de um antigo convento, que, há muitos anos atrás, fora moradia de vários capuchinhos que fixaram suas residências na aldeia: frei João Berard, Frei Davi, e frei Doroteu de Loreto. Encontraram também o alicerce da casa que hospedou o Imperador D. Pedro II em visita às margens do Rio São Francisco, onde permaneceu durante três dias.

Na ilha ninguém tinha casa, vivia todo mundo debaixo dos pés de pau. Ninguém dormia direito com medo de ser morto pelos fazendeiros.

A questão começou a ganhar espaço nos órgãos de comunicação do Estado de Sergipe, e até nacionalmente, chegando a sensibilizar o Governo do Estado. Os Xocós continuaram na luta que pela documentação da ilha, e isso só veio acontecer dia 27 de junho de 1984, quando o Governador do Estado de Sergipe com a presença do Presidente da FUNAI e lideranças indígenas dos Xocós passaram a documentação do Estado para União e para a FUNAI.

Com isso terminava uma parte da luta que durou um período de seis anos. Após isso, os Xocós começaram a estudar a possibilidade de recuperar o restante da terra, a légua chamada de Terra Caiçara. (Imagem da Terra Caiçara)

Em 1985, a FUNAI (órgão indigenista oficial) forma uma comissão de engenheiros, técnicos, advogados, antropólogos, acompanhados por um técnico do INCRA de Sergipe para fazer o levantamento fundiário e, posteriormente, a demarcação da Terra Caiçara. Mas isso não foi possível devido à resistência dos fazendeiros que se diziam donos da terra dos Xocós.
Cansados de esperar e sentindo que o problema não seria resolvido, mas uma vez a comunidade indígena foi obrigada a fazer mais uma retomada para garantir que o direito sobre a terra Caiçara. Isso aconteceu em 31 de agosto de 1897.

Depois de tudo combinado, eles saíram atravessando o canal para abrirem as valetas, enquanto outras pessoas foram comunicar à FUNAI. Depois das valetas feitas, chegou o momento de irem para a casa do fazendeiro. Chegando lá, encontraram o empregado e mandaram-no ir embora. Foi quando o empregado avisou ao fazendeiro e o mesmo comunicou a Policia do Estado.

Dois dias depois veio o administrador da FUNAI, avisando que a comunidade ficasse despreocupada, pois não aconteceria nada, e que já havia tomado algumas providencias, porém, no decorrer de 20 minutos chegou a policia batendo, chutando e mandando todo mundo deitar no chão. A comunidade começou a rezar e avisar a policia que em nenhuma hipótese iriam sair dali. Quando o fazendeiro viu que ninguém iria sair, mandou a policia atirar. Porem o pedido não foi atendido.

E mais uma vez os Xocós foram vitimas de uma violência praticada por fazendeiros “invasores”. No dia 1 de setembro, com a cobertura do juiz de Direito da Comarca de Porto da Folha, eles foram barbaramente massacrados, pisados e chutados, expulsos da terra.

Após a expulsão recorreram a FUNAI, para que as providencias fossem tomadas, e mais uma vez o ocorrido foi parar na Justiça Federal, sendo encaminhado pelo Procurador da Justiça, o Exm. Dr. Evaldo Campos, para o Estado de Sergipe. Que deu entrada no dia 19 de janeiro de 1988. No dia 24 de dezembro de 1991 depois de muita luta, saiu a homologação da Terra Caiçara. Comemorado com grande entusiasmo pelo povo Xocó.

Nenhum comentário: