sábado, 5 de fevereiro de 2011

Silêncio e escuridão: a ditadura militar no Brasil


Quando as coisas começam a conjurar destinos perigosos, as forças conservadores sempre entram em ação. Foi assim há 44 anos atrás, no Brasil.

No dia 31 de março de 1964, foi dado o Golpe Militar que instaurou uma ditadura de 20 anos, que sufocou qualquer tipo de manifestação social de esquerda. Há muito silêncio sobre o tema, mas também muitos interessados nesse saber. Todo dia é dia, mas, acredito que hoje seja um dia ainda mais importante para pensarmos sobre esse período nebuloso de nossa história recente.

O clima era tenso na época, e se difundia a idéia maniqueísta da luta entre o bem e o mal. Quem era o “bem” e quem era o “mal” era uma questão de perspectiva. O bloco capitalista (liderado pelos EUA) e o bloco socialista (liderado pela URSS) estavam em plena batalha silenciosa e surda, nos sotãos da diplomacia internacional: era a chamada Guerra Fria.

O poder era disputado passo a passo, território a território. Em 1959, em Cuba, a revolução castrista ganhava rumos e se encaminhava para a adesão ao socialismo, ampliando as forças da URSS, e sua influência decisiva na América Latina. E o Brasil, que destino estaria reservado para nós?

Após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, quem assume é o seu vice, João Goulart (Jango). Alinhado aos comunistas, ele representava uma proximidade do Brasil com o bloco socialista.

Enquanto alguns grupos de movimentos sociais, de trabalhadores, estudantes e intelectuais, equipavam-se de saberes da teoria marxista e se voltavam para um pretenso socialismo, forças conservadoras ligadas à Igreja Católica (como a TFP) e aos partidos reacionários (a UDN e o PSD) acirravam os ânimos de uma disputa surda pelo poder.




Em todos os níveis o poder era o centro das atenções: nas esferas da diplomacia internacional, nos meandros da política nacional e estadual, assim como nos movimentos sociais, tanto da esquerda quanto da direita, revolucionários e reacionários.

Em Pernambuco, a tensão era grande: eleito governador do Estado, Miguel Arraes, que era já há tempos alinhado aos movimentos rurais, como as Ligas Camponesas, certamente causava o pânico nas forças conservadoras e capitalistas, nos latifundiários e mesmo nos agentes políticos e militares norte-americanos.
O nordeste agrário certamente era um território estratégico nessa luta. Movimentos de trabalhadores rurais eram ‘amparados’ nas políticas públicas e nas intenções ideológicas de Arraes. Este, por sua vez, alinhado, de certa maneira, ao então presidente Jango.

Os rumos conjurados eram óbvios: um percurso socialista.

Temendo uma revolução de esquerda no país, as forças reacionárias alinhavam-se aos militares brasileiros, na busca de evitar o ‘mal do comunismo’.

Após deposto o presidente do Brasil (que se exilou no Uruguai), as tropas militares cercaram o Palácio do Campo das Princesas, em Recife. Recusando-se a renunciar, Arraes foi deposto, e levado para o 14º Regimento de Infantaria (o chamado “quatorze”), em seguida, para Fernando de Noronha.




Estava dado o Golpe. O Brasil mergulhava na escuridão de um regime autoritário, que cercearia as liberdades civis e de manifestações de pensamentos contrários ao regime.

A repressão nos dias de chumbo foi intensa: torturas, mortes, guerrilhas, atentados, terror. Amparado no silêncio dos meios de comunicação (que, quando não eram ‘forçados’ pelos Militares, faziam a defesa do regime de bom grado).

O curisoso foi também o ‘silêncio’ da OAB, que só viria se manifestar de peito aberto, de fato, contra o regime militar, em 1977, após a posse de Raymundo Faoro (autor do clássico ‘Os Donos do Poder’), como presidente da Ordem. Alguns religiosos vinculados à Igreja se colocavam contra o regime, como alguns teólogos e padres vinculados à Teologia da Libertação.

A adesão da classe média, de setores da Igreja Católica, o silêncio da mídia (forçado ou não) e da OAB, o apoio das juntas militares norte-americanas, as ações políticas dos presidentes militares, tudo isso colaborou, à sua maneira, para o derretimento de qualquer gesto ou pensamento anti-regime-militar ou esquerdista.

Ainda no anseio de implodir o regime militar, uma série de guerrilhas (como a Guerrilha do Araguaia) eclodiu nos interiores do País, resultando em milhares de mortes obscuras. O assassinato de estudantes, tortura de jornalistas, intelectuais e artistas marcaram esse passado recente e amordaçado da história do Brasil.

Muitos dos ditos ‘bastiões’ da democracia brasileira hoje em dia, aderiram ou ficaram calados durante todo o regime. Outros se apoiaram de fato no regime para se alavancarem.

E, muita verdade ainda para vir à tona. Essa História está muito mal contada, em seus detalhes, nos ‘nomes’ de quem estava por trás das torturas e massacres, e, nós, historiadores, cientistas sociais e jornalistas esperamos ávidos pelo Saber, pelo dia em que, enfim, a abertura irrestrita dos documentos oficiais deste período se tornará um fato. Não são poucas as reivindicações pela abertura dos arquivos da ditadura.

Há muito o que ser esclarecido…

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Breve nota: ao longo do texto, coloquei uma série de links que levarão o leitor a outros textos que complementam o meu, podendo estes não estarem em pleno acordo com minhas idéias expostas ao longo da matéria. O objetivo de tantos links foi apenas o de ampliar os horizontes de conhecimentos dos leitores.

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