terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Paixão pela Africa uniu antropólogo Sérgio Ferretti e fotógrafo Pierre Verger em inesquecível viagem a Benim
Gefferson Ramos
[Sérgio Ferretti e a mulher, a também antropóloga Mundicarmo Ferretti,
em frente ao palácio real de Aboney (Simbodgy) restaurado pela Unesco]
Quando em 1983 Sérgio Ferretti enviou ao fotógrafo e etnólogo Pierre Verger sua dissertação de mestrado “Querebentã de Zomadônu. Etnografia da Casa das Minas” (3ª ed. RJ: Pallas, 2009), jamais imaginava que ali seria o início de uma forte amizade.
Verger passou a acompanhar com todo interesse os trabalhos do amigo sobre a Casa das Minas do Maranhão, local de culto afro-brasileiro de raízes jeje. Historiador por formação tendo recebido os melhores ensinamentos de Gustavo Barroso, Darcy Ribeiro e Maria Yedda Linhares, Ferretti acabou optando pela Antropologia dedicando-se há mais de três décadas ao estudo da Casa das Minas. É considerado o maior especialista do assunto no Brasil.
[Do lado direito: Mãe Estela, Iobá Cancanfô e Pierre Verger, E-D]
Em 1992, a convite de Verger, viajou à África para participar de um seminário promovido pela Unesco em Whydah, ou Ouidah - designações em inglês e francês para Ajudá, atual República do Benim (ex-colônia francesa). A seu convite, o antropólogo carioca radicado no Maranhão há mais de 40 anos, partiu para uma inesquecível viagem. Os acompanhavam ainda líderes espirituais de religiões afro-brasileira da Bahia e do Maranhão.
[Visita à Casa de Nache Sobô com D. Celeste]
O seminário marcava os 500 anos da abertura do comércio de escravos. O local, que se originou a partir da construção pelos portugueses da Fortaleza de São João Batista de Ajudá, forneceu escravos para o Caribe e principalmente para o Brasil.
Havia, ainda, outra razão que revestia de todo significado aquele encontro. Acontecia na região um festival religioso em comemoração ao fim dos 20 anos do governo comunista que proibira o Vodum, culto a divindades ancestrais do povo africano. Na ocasião, o grupo teve uma grata surpresa quando Dona Celeste da Casa das Minas, uma das convidadas, entoou uma cantiga que foi devidamente reconhecida por pessoas mais velhas do lugar. Foi, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes, pois aquela era a prova mais viva de que seus ancestrais tinham tido um passado comum.
[À esquerda, mulher indo ao mercado de Ouidah]
Ferretti e Verger foram amigos até a morte do fotógrafo, em 1996, tendo trocado várias cartas até então. Entre os projetos que pensavam em realizar estava o de publicar um livro com fotos que o francês havia feito do Maranhão, nos anos de 1947 e 1948. As imagens ainda permanecem inéditas na Fundação Pierre Verger em Salvador, em meio às mais de 60 mil deixadas pelo etnólogo. O sonho de trazer a lume às raridades ainda é acalentado.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário