domingo, 30 de janeiro de 2011
Brasilianista quase por acaso
Ele começou escrevendo sobre o Brasil Império, depois, prosseguiu à Primeira República, o Brasil pós 1930 e, por último, a situação atual. Depois, voltou, passou novamente pelo século XIX e chegou ao XVIII.
“Em geral, posso dizer que estudo o período de acordo com as fontes que vou encontrando, e não por preferir uma época mais do que outra. Mas esta trajetória sugere que acabarei com Cabral”, brinca o simpático Richard Graham [foto ao lado de 2005; autoria: João Paulo Engelbrecht], historiador, professor da Universidade do Texas, e que recentemente recebeu o Distinguished Service Award, premiação concedida pela Conference on Latin America History (Clah).
“A Clah data de 1938 e é a mais antiga das sociedades afiliadas ao AHA [American Historical Association, a sociedade dos historiadores americanos]. O prêmio é concedido anualmente a um membro que, em sua vida, se distinguiu tanto em sua obra de historiador como por sua posição de liderança na profissão. No ano passado a pessoa honrada foi [o antropólogo e historiador austríaco especializado na Revolução Mexicana] Friedrich Katz, da Universidade de Chicago.”
A ligação de Graham com o Brasil data também do século XIX, quando seu avô, pastor protestante chegou ao país, pouco antes da queda do Império. Vinte e um anos depois, foi a vez do pai, também pastor, morar no Brasil. Já casado, a família Graham foi morar em Goiás, onde nasceu, numa época em que “não havia nada lá”, contou Graham em uma entrevista para edição número 2 da RHBN. “Ou melhor, havia um obelisco, uma espécie de monumento dizendo ‘este é o centro do futuro Distrito Federal do Brasil’, só isso”.
“Uma coisa que meu pai fazia muito era viajar a cavalo por Goiás. Uma vez fui com ele, também a cavalo, numa viagem que durou um mês. Já li em algum lugar que uma viagem pelo Brasil é também uma viagem através da história. Quando íamos pelo interior, víamos aspectos do Brasil do século XIX, do século XVIII e até mesmo do século XVII. Sobre certas coisas que a gente lê em livro sobre o século XVII posso dizer: 'Ah, eu vi isso'. Mas depois que meu pai morreu fui para os Estados Unidos, aos 14 anos. Então minha formação toda foi realmente norte-americana, como vocês podem perceber pelo sotaque (risos). De todo modo, preservei aquele background que acho que me levou ao estudo da história do Brasil”, disse na oportunidade.
Aliás, a oportunidade ficou na memória de Graham, assim como na da “Revista”: ele sugeriu que a foto que ilustrasse esse texto fosse a mesma da entrevista, porque gostava da imagem com “o Corcovado no fundo”.
Graham voltou ao Brasil para pesquisar sua tese de doutorado em 1959 e tem lecionado aqui em várias ocasiões desde 1972, passando pelas universidades Federal do Paraná, Federal Fluminense e de São Paulo. Mas o homem que escreveria obras como “Escravidão, reforma e imperialismo” e “Clientelismo e política no Brasil do século XIX”, se tornando uma referência dos estudos históricos brasileiros, começou a estudar o país quase por acaso, com um incentivo de um professor na época da graduação.
“Fiz faculdade nos Estados Unidos e, como era típico, lá não davam nada sobre América Latina, muito menos sobre Brasil. Então eu estudava a história da França, da Itália, da Inglaterra e dos Estados Unidos. O que realmente faziam era nos instruir sobre os métodos de pesquisa e a preparação de uma tese. Quando estava perto de terminar o curso, disse a um dos professores: ‘Quero ser professor de história, quero ser um historiador’. Ele perguntou: ‘Sobre qual parte do mundo?’. Eu respondi: ‘Bem, talvez França’. Aí, ele disse: ‘Mas você tem essa experiência de um outro país, o Brasil. E você já fala uma língua além do inglês...’ Acho que ele estava querendo dizer que o meu francês era ruim”, disse Graham em 2005.
Hoje, ele fala sobre como o Brasil vem ganhando notoriedade no mundo inteiro e como se torna – ou deveria se tornar – objeto de estudos mais comumente.
“Creio que não é nenhum segredo que a importância do Brasil está crescendo quase que diariamente. Por esta razão a sua história deve ser conhecida não só pelos brasileiros, mas por pessoas ao redor do mundo.”
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